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O líder, na maioria das vezes, é retratado como alguém com superpoderes. Em outras, o líder é fonte de uma inesgotável fonte de energia e capacidades múltiplas. Contudo, devemos perceber que na verdade nada mais são do que ‘gente’. Isso mesmo, gente. Uns com maior capacidade que outros. Uns mais ‘humanos’ que outros. Uns mais equilibrados que outros.
O mundo corporativo atual tem, apesar de toda ‘humanização’ (isso é um sarcasmo), deixado espaço para um tipo que foge desse padrão. E que pouco se fala, o líder ‘manipulador’. Falo aqui de um tipo que ‘foge’ um pouco dos famosos psicopatas que vemos em filmes ou nos casos contados por psiquiatras.
Você reconhece alguém assim?
Manipuladores são habilidosos, inteligentes e sem escrúpulos ao mesmo tempo. Pensar neles como um dos tipos de pessoas mais egocêntricas (e potencialmente narcisistas) na existência, chega a ser bem preciso. São indivíduos despreparados para receber críticas, são coléricos, tem uma raiva enorme quase ‘à flor da pele’, magoando-se com muita facilidade, impedindo com isso que as relações sociais com outras pessoas sejam prejudicadas.
Em um mundo dominado pela vaidade e pelo consumo pouco são os locais em que esse ‘ser’ não habita. Na classe notarial e registral esse tipo mais do que sobrevive, ele se mantém, principalmente quando impera uma imagem positiva, dá bons retornos financeiros e notoriedade a atividade que se diz fazer com Excelência.
Um dos livros mais vendidos na Escandinávia há alguns anos foi “Snakes in Suits: When Psychopaths Go to Work” (“Cobras em Ternos: Quando Psicopatas Vão ao Trabalho”, em tradução livre, sem versão em português), de Paul Babiak e Robert D. Hare. Estudos afirmam que um entre 5 e 10 gestores pode ser um psicopata. Isso significa pelo menos 10% de todos os chefes, caso a análise esteja correta. Ainda mais assustadoras são as estimativas menos conservadoras, que apontam um índice de 20% de psicopatia entre os profissionais que ocupam cargos de gestão.
A manipulação é uma das manifestações do Assédio Moral no trabalho e eu acredito que em algum momento de sua vida, você já passou por isso. É preciso conhecer bem o perfil dessas pessoas para não cair em suas armadilhas. Você deve prestar atenção aos sinais quando se repetem. É claro que queremos ser felizes e que tudo acabe bem, mesmo estando diante de um manipulador, mas há momentos em que é melhor se afastar.
É importante, então, entender o que faz com que essa pessoa “funcione” de tal maneira. O psicólogo clínico Dr. George K. Simon – considerado um especialista em comportamento manipulador – cita três comportamentos subjacentes de manipulação:
(1) Ocultação intencional de comportamentos agressivos e suas intenções.
(2) Identificar e alavancar eventuais “falhas” de um indivíduo para realizar com sucesso suas ações.
(3) Uma mentalidade implacável que carece de compaixão, permitindo que o manipulador atue sem apreensão.
“A manipulação psicológica pode ser definida como o exercício de influência indevida através de distorção mental e exploração emocional, com a intenção de aproveitar o poder, controle, benefícios e/ou privilégios às custas da vítima”. – Preston Ni
Para que você se defenda deste tipo de pessoa, existem algumas “normas de segurança” que foram criadas pelo expert em comunicação e treinamento Preston Ni. Conheça:
- Você tem direito a ser respeitado por outras pessoas.
- Tem direito a expressar seus sentimentos, opiniões e vontades.
- Tem direito de estabelecer suas prioridades.
- Tem o direito de dizer “não” sem que se sinta culpado.
- Tem direito de receber aquilo pelo que pagou.
- Tem direito a expressar seus pontos de vista, mesmo que eles sejam diferentes dos demais.
- Tem direito de se proteger de ameaças físicas, morais e emocionais.
- E você tem direito a construir sua vida de acordo com sua própria noção de felicidade.
É importante distinguir a influência social saudável (relacionamentos construtivos) da manipulação psicológica (relacionamentos tóxicos).
Não se engane! Liderar por manipulação não é para qualquer um: exige bastante talento. Principalmente porque vai ser preciso dosar bastante malícia, inteligência, inspiração, um bom índice de auto-controle, uma postura “compreensiva” do tipo “só quero o seu bem” e, de preferência, contar com um séquito de pessoas altamente aproveitadoras oferecidas pelo líder manipulador.
Como identificar um líder manipulador
Essas dicas servem para identificar colegas ou pessoas próximas que também são manipuladores. Fique atento as características:
Demonstrações de poder – Os manipuladores têm um apetite insaciável por poder. Sua arrogância inata leva-os a acreditar que possuem influência superior sobre as pessoas, apesar de qualquer evidência do contrário. Com o tempo, a relação azeda começa a se impor à força. Se o profissional não encontra meios de denunciar, pode sofrer abusos, como ter seu trabalho escondido ou desqualificado. A saída é encontrar formas de contar a pessoas de outras áreas sobre seu trabalho e sobre quem, de fato, é o líder canalha.
Ele sabe e controla tudo – Outra característica marcante é que ele gosta de se aparecer como o superinteligente, que tem muito conhecimento e experiência. Ele parece ajudar a todos e é inspirador. A boa relação esconde a centralização. m algum momento ocorre uma virada e ele deixa de oferecer ajuda, abandona a equipe e começa a cobrar resultado excessivamente. A essa altura, a equipe tornou- se dependente. Às vezes, a relação é tão forte que o liderado nem percebe que está sendo abusado. A lição: por mais inspirador que um chefe possa parecer, não acredite cegamente nas palavras dele.
Gestão por medo – Depois de criar uma causa, envolver a equipe e impor o poder, alguns líderes provocam medo em suas equipes para conseguir se legitimar. Um típico líder que usa isso é aquele que diz que, se as metas não forem alcançadas, demissões podem ocorrer. Ou que, se tal projeto for bem-sucedido, todos serão promovidos — o que nunca acontecerá.
Isolamento total – Com o tempo, o líder ruim se distancia completamente da equipe. Em uma relação de proximidade, fica difícil manter poder. A consequência é que o líder acaba perdendo a legitimidade. A partir desse momento, o clima de trabalho vai piorar muito. Os resultados da área vão começar a despencar. Se o líder tiver muito destaque no Cartório, talvez leve tempo até que alguém perceba que ele é o responsável. Se a coisa está nesse ponto, ficar no emprego é uma aposta arriscada. Mais seguro procurar um novo emprego: ainda que o mau chefe seja flagrado rapidamente, todo o departamento já herdou a má reputação dele.
Aumentam a voz e/ou tornam-se agressivos – Devido ao seu sentimento de poder e soberania mal colocados, um manipulador pode tornar-se agressivo quando as coisas não vão como planejado. Eles podem aumentar a voz ou agir de forma agressiva ao exterior. Outra razão para esses surtos comportamentais é a coerção. Eles podem assumir que, ao agirem agressivamente, podem influenciar alguns a conceder a derrota.
Fazem os outros sentirem pena deles – Manipuladores estão entre as últimas pessoas na Terra das quais deveríamos sentir pena, mas, muitas vezes, fazem-se de vítimas para alcançar seus objetivos. Esses episódios vitimistas podem variar desde fortes palavras com um tom de desespero, até um longo período de silêncio, ou seja, o “tratamento do silêncio”. Alguns manipuladores podem anunciar seu “plano” para prejudicar a si mesmos ou aos outros.
A mentira: ele tem uma grande capacidade de mentir, é um especialista nisso. Pode torcer a realidade e levá-la para onde ficará “melhor”. Ouça com atenção para perceber que mente para todos, desde o colega de trabalho até o garçom de um restaurante. Se você disser algo, sua resposta será falar mal do recentemente “enganado”.
Ocultar coisas: pode esconder informações pessoais, como seu número de telefone ou o endereço, ou desconversar ao ter que responder sobre suas ações, pensamentos, opiniões, etc. Por outro lado, querem saber tudo sobre você, de seus afetos à sua profissão. Os melhores podem conseguir que o outro confesse muito sem perceber.
A adulação: trata-se de uma das habilidades mais interessantes do manipulador. Ele sabe fazer isso muito bem. Descobre o que faz você se sentir especial para ganhar sua confiança. Não se deixe enganar por aqueles que adulam muito facilmente as pessoas sem conhecê-las, porque não será com motivos desinteressados.
A promessa: é uma das armas favoritas. Por exemplo, você acaba de ser contratado e ele já diz que você pode brevemente se tornar escrevente, ganhar o dobro do salário inicial, etc. É assim que começa o seu modo de agir. Tenha cuidado, porque você pode acabar seriamente ferido emocional e psicologicamente por isso.
Os favores: a princípio, o manipulador geralmente ajuda em tudo que pode, como se fosse algo compulsivo, que não pode parar. Vai agradar, ajudar, levará você para casa, consertará algo em sua casa. Mas espere, porque eles vão saber pedir no momento certo, pois essa é apenas uma estratégia. Os presentes e favores nunca foram 100% sem interesse. Porém, como também é cínico, afirma que não irá querer nada em troca, o que acaba se revelando mentira. Quer sempre explorar as pessoas, para ter poder e conseguir privilégios fáceis. Raramente agradecem pelo que você fez por ele.
A emoção: é outro recurso que um manipulador usa com experiência através de veia emocional. É que os sentimentos, quando são intensos, não nos permitem agir ou pensar com clareza. Usa o medo e a culpa para pressionar os outros quando querem algo em troca. “Olha o que você fez“, “Eu nunca o tratei tão mal“, “Por que você não me ligou?“. Também pode assustar com sinais como “Não faça isso”, “Não será bem sucedido”, etc.
A sombra: não apenas esconde informações sobre sua privacidade, mas também desaparece onde não há luz para poder analisar melhor a vítima. É até possível que utilize outras pessoas para procurar dados de sua próxima presa (outro manipulado). Não é uma pessoa honesta, nem transparente nem responsável. Do nada, começa a espalhar fofocas sobre alguém, enredar as pessoas em suposições, exagerar os fatos, colocar alguns “ingredientes” próprios em um relato, etc.
Adora se fazer de vítima – Nas discussões, mesmo ele estando errado, vai fazer com que você se sinta culpada por tudo aquilo que não fez. Ele vai questionar seus sentimentos, resgatar seus traumas do passado, seus problemas, além de lembrar você de todos os favores que ele já fez e dizer que você é a grande e única responsável pelas brigas no relacionamento. Também é craque em se fazer de vítima para os outros, pois quer ver todos contra você, para deixá-la isolada.
Sempre se sentem pior que você – Não importa o tamanho do seu problema, o manipulador sempre estará pior do que você. Os manipuladores nunca se cansam de lembrar que os seus problemas são muito mais graves. Dessa forma você não tem razão alguma para reclamar.
Mantenha distância – Durante a comunicação, um manipulador mudará sua máscara o tempo todo: com uma pessoa pode ser extremamente educado, enquanto com outro pode reagir com violência e grosseria. Em uma situação se fará passar por alguém indefeso, enquanto em outra deixará aparecer seu lado agressivo. Se você já percebeu que a personalidade de alguém tem a tendência de refletir este tipo de extremos, o melhor que você pode fazer é manter uma distância segura dessa pessoa e não se relacionar com ela a menos que seja realmente necessário.
DICAS PARA SE COMPORTAR PERANTE A UM MANIPULADOR
Analise sua relação com um manipulador respondendo mentalmente às seguintes perguntas:
- Esta pessoa me demonstra verdadeiro respeito?
- Suas exigências e solicitações são bem fundamentadas?
- É uma relação equilibrada? Talvez você seja um dos que se esforça enquanto o outro só recebe os benefícios?
- Esta relação me impede de manter uma boa relação comigo mesmo?
As respostas a estas perguntas ajudarão você a entender de quem é o problema, se ele está em você ou na outra pessoa.
Faça-o algumas perguntas de teste e ficará mais claro para você se tal pessoa tem ao menos um pouco de autocrítica e/ou vergonha.
- “Você acha que é justo o que está me pedindo?”
- “Você acha que isso é justo comigo?”
- “Posso ter minha própria opinião a respeito disso?”
- “Você está perguntando ou afirmando?”
- “O que eu recebo em troca?”
- “Você acha mesmo que eu… (reformule o pedido do manipulador)…?”
- “Você apoiará minha decisão, mesmo que não coincida com a sua?”
- “Você realmente espera que eu faça isso, se sabe que não é do meu interesse?”
Fazer estas perguntas é como colocar o manipulador em frente a um espelho, onde a pessoa verá o “reflexo”, a verdadeira natureza de seu pedido.
Se você sente que estão te pressionando, não se apresse a tomar uma decisão. Ele força você a responder ou agir de imediato. Use o fator tempo a seu favor, retire a chance de ter sua vontade coagida. Você manterá o controle da situação dizendo apenas “eu vou pensar”. São palavras muito eficientes! Faça uma pausa para analisar prós e contras: determine se você quer continuar discutindo sobre o assunto ou dar um “não” definitivo.
Diga não olhando nos olhos do manipulador. É seu direito! Como resposta às intromissões grosseiras no seu espaço pessoal e à dificuldade em aceitar seu ‘não’, fale ao manipulador sobre as consequências de seus atos.
Se você sente que seu oponente está constantemente insistindo em mudar sua opinião, pense em uma resposta e repita como um robô, quantas vezes for necessário para o manipulador entender seu ponto de vista. As respostas mais comuns são: “Eu não vou fazer isso”, “Eu não estou gostando dessa conversa”, “Vamos acabar com isso”. O mais importante é não mudar o tom e não mostrar emoções. Exemplo de um diálogo:
— Achei que você tivesse entendido.
— Estou disposto a ouvi-lo novamente.
— Para que falar se você não escuta?
— Estou disposto a ouvi-lo novamente.
— Você não entende as coisas mais básicas ou será que você simplesmente não quer entender?
— Estou disposto a ouvi-lo novamente.
MAS, AINDA TEM OUTROS TIPOS ‘DOENTIOS’?
A resposta é sim. Apesar de neste artigo, eu ter me dedicado a ‘mostrar’ o líder ‘psicopata’, existem muitos outros, em parte similares ou não. Então, torna-se importante também registrar que não só o ‘tipo psicopata’ que pode causar danos aos atores organizacionais (Kets De Vries & Miller, 1995), mas também:
- O líder paranoico: aquele que se sente ameaçado por um perigo exterior e está sempre pronto para o ataque;
- O líder obsessivo-compulsivo: cerca-se de um autocontrole para não depender de ninguém;
- O líder teatral: vive sob os holofotes para atrair a atenção e impressionar;
- O líder depressivo: sente-se incapaz, indigno ou sem poder; e
- O líder esquizoide: guarda distância para não ser obrigado a se relacionar com as outras pessoas.
É um desafio falar desse tipo de liderança. Mas é imprescindível a saúde das relações organizacionais. Eles estão por toda a parte, te rondando ou já se manifestando em sua vida. Eles se mostram com frequência. Claro que esse artigo são pistas e dicas para que você entenda como eles agem e possa tomar as melhores respostas para as situações indesejadas. Às vezes, temos que aprender a lidar com o inimigo para conservar nosso trabalho, já que é um tipo de pessoa que você encontrará facilmente em outros lugares.
Essas pessoas se revelam nos detalhes. Basta que esta atentos, elas se revelam. Esteja atento!
Não se trata de viver desconfiando das pessoas. Ou ainda adivinhar. Ou julgar pela primeira impressão. Contudo, deixar ao acaso é correr risco de conviver e sentir na ‘pele’ as práticas desse tipo.
Lembre-se: a armadilha na qual o rato ficou preso, não é um bom lugar para morar. Então, olho vivo e faro fino. Esse tipo espreita sem tréguas.
Nunca confunda manipulação com persuasão. Manipular, coagir é um problema, fazer com que alguém cumpra algo baseado em força, influência ou abuso moral, mas persuadir é quase uma dança; é a arte de tentar conquistar outros pelas ideias, pelo diálogo. Vem de um lugar de interesse sincero e é mutuamente benéfico às partes.
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O Inspire Qualidade é um método de Incentivo, Treinamento e Educação para a Melhoria da Eficiência da Gestão de Cartórios, de forma contínua e sustentada. Foi desenvolvido em 2013 e atende Cartórios e organizações de todos os setores em todo o Brasil, criado e conduzido pela especialista Thais Ribeiro, Fundadora e Consultora da Íntegra Soluções Empresariais.
Thais Ribeiro é Administradora especialista em Programas de Qualidade e Desenvolvimento Humano. Criadora do Programa Inspire Qualidade. Atua há mais de 15 anos com Consultoria Empresarial, Normas Técnicas, Mudança de Cultura Organizacional, Análise e Desenvolvimento Comportamental. Mestranda em Consultoria Organizacional pela UMSA – Buenos Aires/Argentina. Pós-graduada em Gestão, Inovação e Competitividade. Extensão em Propriedade Intelectual. Empreteca. Psicohipnoterapeuta. Programadora Neurolinguística. Coaching. Realizou mais de 5 mil horas de treinamentos sobre Empreendedorismo, Inovação, Startups, Gestão, Normas Técnicas, Direito, Marketing, Psicologia, Hipnose, PNL, Coaching e outras ferramentas com os melhores do mundo. Contato: thais@inspirequalidade.com.br